segunda-feira, julho 20, 2009

STAR WARS X GODARD

Quem curte cinema holywoodiano sabe que seu gosto, às vezes, é motivo de vergonha e chacota. Especialmente se você está com pessoas ditas intelctualizadas, especializadas em assistir àqueles filmes cabeçudos de produções européias ou brasileiras. Em geral, estas pessoas criticam até a alma os filmes-pipoca, revelando o quão emburrecedor e capitalizados eles são, quanto sua produção está ancorado em motivos mercadológicos, que seu único objetivo é encher o rabo dos produtores de dinheiro e manter a platéia alienada, incutindo na cabeça de quem assiste o estilo de vida americano, tornando-os todos escravos do imperialismo norte-americano.

OK. E eles estão certos.


Quem gosta de blockbusters sabe que tudo isso é verdade. Exatamente por isso se sente envergonhado de expor e defender seu gosto diante de pessoas com gosto intelectual para filmes, muitas vezes comentando silenciosamente e com movimentos de cabeça sobre produções as quais nunca nem sabia que existia. Tudo para não ser tachado de escravo do imperialismo norte-americano.

Como você já deve saber, eu, provavelmente, vou criticar esta postura, vou dizer o contrário do que eu falei até agora, vou mostrar que filmes-pipoca são legais e filmes cabeçudos também podem ser emburrecedores. Por isso, sem enrrolação, vou afirmar: filmes-pipoca são legais e filmes cabeçudos são tão emburrecedores quanto.

O grande crime do filme holywoodiano, segundo nossos cinéfilos intelectualizados, seria o fato de sua produção ser mercadológica. Isto soa como "vender a alma ao diabo". O filme perdeira seu valor autoral por precisar responder, agora, a um modelo construído pelos carinhas de terno-e-charuto que pagam o filme. A grande virtude do filme cabeçudo é que ele foge aos esquemas comerciais, valorizando mais a visão do autor do que se o filme serve para ser vendido.

Mas, e se eu disser que filmes intelectuais são mercadológicos? Se eu afirmar com todas as letras que estes filmes tanbém servem a um circuito comercial? Pois eles o fazem. Filmes-cabeça são produzidos para atender a uma platéia específica, que são as pessoas que curtem fiçlmes assim. Deste modo, eles também servem a um modelo de venda, pois eles precisam fugir do conceito holywoodiano de produção para serem aceitos dentro do circuito comercial que pretendem se inserir, que no caso seria o comércio de filmes intelectuais. Se eles não atenderem a este modelo, que se define pela negação do modelo holywoodiano, eles não serão comprados pelo público ao qual se destinam.

Então, eu sou um diretor que quero vender meu filme no circuito alternativo de cinema (que é onde circulam os filmes-cabeça), mas quero produzir um filme sobre naves espaciais e alienígenas gosmentos. Mesmo que meu filme tenha a profundidade psicológica de Kafka, um outro filme que tratasse do relacionamento dúbio de um casal (o plot mais manjado de filmes-cabeçudos) estaria à frente do meu no circuito alternativo, porque atende ao modelo mercadológico destes filmes de maneira melhor. Sacaram?

"Então, peraí, Soth? 'Tá me dizendo que estes filmes também são comerciais, porque servem a um modelo comercial específico, que seria o modelo de filme alternativo, diferente do filmes holywoodianos?" - pergunta o carinha vestindo a camisa com a estampa do rosto do barbudo revolucionário símbolo pop. Isso, exatamente isso.

Filmes alternativos são tão comerciais quanto filmes-pipoca, só que atendem a um mercado diferente, mas não deixam de ser mercadológicos.

"Ah, mas eles não emburrecem o telespectador, como fazem aquelas produções de massa!" - e eu respondo: será? Pelo que eu sei, alienação é quando você procura fazer a pessoa esquecer sua realidade. Certo, quando você assiste a um filme sobre elfos e orcs é algo completamente fora da realidade. Mas isso se você for como aquelas pessoas que lêem a Bíblia ao pé da letra. Toda produção cultural humana é feita a partir de uma realidade do próprio autor e ele fala desta realidade de modo direto ou na forma metafórica, que é o que aocntecem com filmes de fantasia, por exemplo. entaõ, filmes pipoca falam sim da realidade.

"Mas eles não falam da realidade da maioria dos telespectadores, fazendo-os acreditar numa realidade que não é a sua e isso é a alienação." - Concordo. Mas desde quando filmes-cabeça sempre falam da realidade de todos os telespectadores ou mesmo da maioria? Só porque trabalham, por exemplo, relações amorosas de um jeito mais realísticos, com casais neuróticos e infelizes, que vivem traindo uns aos outros e acabam descobrindo que o amor é mais amargura que felicidade? E desde quando isto é a realidade de todas as pessoas? Isto TAMBÉM é uma forma de alienação, porque faz acreditar que relações amorosas saudáveis não existem e que você sempre estará fadado a sofrer por alguém. Não acha isto meio determinista demais e pautado numa realidade particular de alguém? E se alguém tem uma relação amorosa saudável? Vai passar a pensar que esta sua relação é falsa, porque NÃO É assim que as coisas acontecem. Isto também é alienação, oras!

Acredito que o valor das coisas está em seu objetivo. Você não pode medir algo em determinada característica se aquela coisa não se propõe a isso. Ou seja, se um filme não tem a intenção de produzir reflexões profundas, porque eu deveria julgá-lo a partir disto? O filme-pipoca não é feito para queimar neurônios, mas para distrair. O cinema holywoodiano é, antes de tudo, um cinema para a diversão. Não é nenhuma crime isto, é a proposta da produção. Nem só de atividade intelectual profunda vive o homem. Ás vezes, tudo o que você precisa e quer é relaxar e não ter que refletir sobre a metafísica da existência de Hitler. Blockbusters servem para estes momentos. São filmes feito para chutar o balde.

Entendam que eu não estou, de forma alguma, desvalorizando filmes-cabeçudos. Estou valorizando os filmes-pipoca que sofrem tanto de preconceito por parte de críticos intelectualizados, como produções voltadas para o consumo por massas emburrecidas, alienadas e sem capacidade de apreciação de obras de arte. Coisa que estes críticos intelectualizados, pretensiosamente, dizem possuir.

Se você se diverte com um filme que te faz refletir, em duas horas, sobre toda a existência humana e os caminhos possíveis que podemos percorrer em um quarto escuro e vazio, então alugue, baixe da internet ou vá a um cinema alternativo e assista o filme de que você gosta, sem medo e sem restrições. No entanto, se você curte chutar o balde, sentar numa poltrona p'ra ver alienígenas gosmentos, espadas lasers e vilões asmáticos corrompidos pelo Lado Negro da Força, então vá assistir a Star Wars, Indiana Jones, Matrix, O Senhor dos Anéis ou qualquer outro filme-pipoca que você encontrar, sem se preocupar com a metafísica e os modelos mercadológicos por trás disso. Porque, como disse Clint Eastwood, galã de antigos filmes de faroeste e recente produtor, diretor e ator do filme-cabeçudo Gran Torino:

"O filme que não distrai não merece ser feito."
(Clint Eastwood)

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