O QUE ENTORTA É VOCÊ! (ou "A Colher Não Existe")

Eu 'tô muito triste, então este não vai ser o mais bem-humorado dos meus posts...

Sabe quando a vida te dá uma rasteira inesperada e você vê os muros dos seus planos desabando como numa daquelas filas de dominós que vão se derrubando lenta e inevitavelmente? Sabe quando você passa os dias lembrando de tudo o que foi bom e que não mais é e em como foi que tudo isso se foi tão rapidamente? Sabe quando as horas passam devagar, você não tem nada o que fazer ou, mesmo se tivesse, não sente vontade nenhuma de fazer coisa alguma? Sabe quando tudo te faz lembrar do que você quer esquecer e nada te faz esquecer do que você insiste em lembrar? Sabe quando a vida que você achava estar espetacular, cheia de emoção e alegria, que te impulsionava a levantar da cama com fôlego e um sorriso e te mantinha ocupado todo o dia, de repente, sem mais nem menos, sem chance de aviso, se torna uma vida monótona, desestimulante, rotineira, em que tudo o que você faz parece um tormento eterno e nada te dá sabor? Sabe quando lembrar dói muito, esquecer, mais ainda, e tentar só piora tudo? Sabe quando você substitui suas empolgantes leituras sobre o mundo pop por textos sobre auto-estima e como resisitir aos revés da vida? Sabe quando você se sente estimulado a escrever um texto como este só para tentar aliviar sua amargura e externar sua dor? Espero que você não saiba...

Este foi um deste dias (só o primeiro...). Na tentativa de me empolgar (ou, simplesmente, passar o tempo), tentei assistir a um filme. Do meu catálogo, apenas um era recomendado - todos os outros seriam de alguma forma mais perniciosos do que revigorantes. O Escolhido (!) foi Matrix.

Entre várias frases que de alguma forma carregavam um impulso moral, se destacou uma bem específica. A cena é esta:

Neo está para encontrar o Oráculo. Num tipo de sala de espera, ele vê várias crianças despertas "brincando" de manipular a Matrix. Um garoto está a entortar colheres. Acontece o seguinte diálogo:
Garoto: Não tente entortar a colher. É impossível. Em vez disso, apenas tente ver a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: A colher não existe.
Neo: A colher não existe?
Garoto: Então você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.

O que isso tem a ver com enfrentar os terríveis dias pós-problema pessoal? Experimente pensar a colher como metáfora para o problema e entortar como figuração para resolver, mudar, melhorar, e veja como ficaria (mais ou menos) o diálogo:
Garoto: Não tente resolver o problema. É impossível. Em vez disso, apenas tente ver a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: O problema não existe.
Neo: O problema não existe?
Garoto: Então você verá que não é o problema que se resolve ou melhora. É você mesmo.

Sacaram? Enfim, o grande problema de nossas vidas somos nós mesmos. Só nos conhecendo, refletindo sobre quem fomos, quem somos e quem podemos ser, e mudando, evoluindo, melhorando, é que podemos encontrar a solução. Não adianta tentar mudar o mundo, as pessoas, como se os problemas fossem coisas externas a nós ou como se tivéssemos poder e controle sobre as coisas externas a nós. Isso é impossível. A mudança tem que ser interna, precisa ser nós mesmos o que deve mudar, melhorar. Como se faz isso? Bem, juro que 'tô procurando a resposta p'ra mim mesmo nesse exato instante... "Existe uma diferença entre conhecer o caminho e trilhar o caminho", já diria Morpheus. A porta é esta, só temos que descobrir como faz para abri-la...

"Não pense que é capaz. Saiba que é." (Morpheus, Matrix)