sábado, janeiro 16, 2010

TODO MUNDO 'TÁ REVENDO O QUE NUNCA FOI VISTO


Tem sido notória a grave crise de criatividade de nossa geração. O século XXI parece ser, cada vez mais, o século dos séculos passados. Remakes e revisitações marcam a produção cultural atual. Nada parece nunca ter sido visto.

Não que isso não ocorreu em outros tempos. Meu lado historiador urra em lembrar que nada é realmente novo e que tudo tem um pé no passado. Tendências novas são reinterpretações de coisas que já existiram. Como diria o Velho Guerreiro: "Nada se cria. Tudo se copia."

       
góticos dos anos 80...                 ...emos dos anos 00


No entanto, o que venho chamar de crise de criatividade é a falta de personalidade da atual cultura pop. Se o rock'n roll era nada mais nada menos que a fusão de blues e gospel, entretanto ainda se colocava como música nunca antes ouvida. O que nosso início de século tem trazido? A recente onda emo é puramente uma revisitação grosseira do que fora o movimento gótico (ou dark, como alguns preferem) dos anos 80. O que dizer então da moda dos acústicos? Bandas dos mesmo anos 80 dando uma roupagem nova (?) às suas antigas canções. Enquanto isso, bandas novinhas em folha fazem sucesso com versões igualmente novinhas em folha de sucessos antigos. A moda de roupas parece ser o sinal mais claro da falta de personalidade dos anos 00: a grande tendência é voltar com o estilo anos 80 (de novo, p'ra variar), adotando um visual retrô cada vez mais cool. O futuro é o passado.

O Willy Wonka da minha infância... e o da "nova" geração

Mas, a indústria que mais "sofre" com tudo isso é o cinema. Quando foi a última vez que você viu uma criação atual mesmo, não um remake? Quantas vezes isso aconteceu? Aposto que você enumera nos dedos. E quantas foram as refilmagens? Aposto que nem com os dedos dos pés você consegue contar, não é? Recentemente tivemos Avatar ('tô devendo um comentário sobre ele), arrasa-quarteirão visual que pode-se dizer com uma história original, no sentido de não ser uma refilmagem, pois a trama não é nada que não se possa conceber; mas logo teremos, porém, O Lobisomem, Halloween e A Hora Do Pesadelo, já houve também Vício Frenético, O Dia Em Que A Terra Parou, A Fantástica Fábrica De Chocolates, O Massacre Da Serra-Elétrica, Madrugada Dos Mortos, Sexta-Feira 13, Planeta Dos Macacos, Dragão Vermelho, A Herança De Mr. Deeds, Solaris, (pasmem!) Onze Homens E Um Segredo, King Kong e muitos outros, todos refilmagens de filmes antigos, tudo isso num espaço de 10 anos. Sem contar que boa parte destes estão entre os melhores das produções atuais, o que vejo como um fato complicado: se o referencial de boa produção é uma refilmagem, com efeitos especiais melhorados mas uma mesma história, o que deixa passar é que nós, homens do século XXI, aprendemos a fazer bolinhas de luz brilhantes de maneira verossímel, mas não sabemos mais escrever uma história que preste. Ficamos sempre apoiados em idéias de outros tempos, quando não se podia mostrar um monstro, porque ele pareceria ridículo demais, então carregava-se numa boa história, que proporcionasse suspense, a fim de criar medo não pelo que se via, mas pelas sensações de tensão e susto. Mais ou menos o que Chris Carter fazia com Arquivo X, que não possuía uma parte técnica lá muito satisfatória, então tudo ficava apoiado num suspense que era muito mais o que não se podia ver. E sempre foi (ainda é) um sucesso.

O Lobisomem de hoje...                ...e aquele de 1941!
(pelo menos o de hoje parece mais assutador)

Não que não há criações singulares de hoje, mas o número alto de remakes (e como baluartes do cinema atual) demonstra uma coisa: o século XXI é capaz de criar o iPod e o cinema 3D, mas parece perder gradualmente sua capacidade de criar boas histórias.

O que nos resta? Curtir as boas velhas histórias em novas boas roupagens visuais que só a tecnologia cinematográfica atual sabe proporcionar (e é só o que o cinema atual parece saber fazer: bons efeitos especiais) - isso quando a produção chega, pelo menos, aos pés da original.

"Páginas em branco, fotos coloridas." (Humberto Gessinger, O Papa É Pop)

4 comentários:

  1. Conhecer as músicas, ritmos e estilos de décadas anteriores faz com que a nova geração tenha contato também com as gerações antigas, que mesmo julgando-as ultrapassadas, são sempre imitadas. Entretanto, essa nova forma de copiar coisas antigas evidencia uma falta de criatividade sem tamanho da chamada "modernidade", que como vc mesmo falou, tem a capacidade de "criar o iPod e o cinema 3D", mas criatividade que é bom ninguém vê. É tudo cópia, com uma pitadinha de atualidade.

    Gostei muito do post.
    Estou te seguindo.
    Abraço

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  2. Opa, Liza! Sempre bom ter mais um viajante a bordo da nave! Seja bem-vinda!
    Adoro coisa velha. Música antiga, filme antigo, livro antigo, desenho antigo, roupa antiga... O que me incomoda nisso tudo não é você fazer os tais remakes que estão sendo feitos. É muito legal, por exemplo, poder ver como ficaria O Lobisomem com a parte técnica que se tem hoje. Não. O que me desagrada é pensar que as releituras que farão do nosso tempo serão das nossas releituras...

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  3. dessa onde de falta de criatividade e "reinvençoes" , a que acho pior é a de refilmagens de filmes, são poucos as refilmagesn que realmente são boas ou que merciam ser feitas, a maioria só prova a incapcaidade criativa do produtores e a vontade de gasnhar dinheiro fácil!

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  4. Um belíssimo post saído de uma casual conversa... Prova de que ir ao cinema e ouvir Engenheiros do Hawaii ultrapassam o sentido de simples diversões!!!
    Gostei do texto, tudo explicado em mínimos detalhes e muito bem exemplificado (adorei as fotos!).
    E essa falta de capacidade de criar boas histórias? Como pode? Einstein responde: "A imaginação é mais importante do que o conhecimento."
    O pessoal do cinema devia imaginar mais antigamente, hoje 'tão ocupado demais com esse tal "conhecimento"...

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