quinta-feira, outubro 07, 2010

O NOVO DEZ

Eu era criança na época, por isso não me recordo de, em 1991, ter ouvido falar de uma banda de rock chamada Pearl Jam, que havia acabado de lançar seu primeiro grande sucesso denominado Ten. Tão pouco sabia que tudo se tratava da grande explosão do que viria a ser a tendência musical e comportamental que atingiu a juventude no começo dos anos 90, culminando na morte do ícone dessa tendência, Kurt Cobain, e que, mesmo depois de ter perdido força e espaço para outras tendências, ainda possui seus ecos hoje.

De qualquer modo, posso dizer que sou de uma geração que chegou a ouvir os ecos de forma ainda forte, uma geração que não chegou a ver Cobain como uma lenda do passado do rock, mas que ainda sentia sua presença. E foi com ele que eu, e mais um monte de pessoas, conheci o tal do grunge. Ouvi muito Nirvana, os berros de Kurt e suas letras introspectivas e angustiadas como só o teen spirit conseguiria produzir.


Mas, enquanto isso, chegava aos meus ouvidos a informação de que existia outras bandas, outros caras, que compartilharam daquela cena explosiva de Seatle. Mudhoney, Alice in Chains, Soundgarden, Green River, Temple of the Dog e, claro, Pearl Jam. Por muito tempo, não dei atenção ao som deles, não porque considerava ruim, mas porque o Kurt ainda era suficiente para externar meus sentimentos juvenis. No entanto, o tempo passou, o cenário musical mudou, a juventude mudou; de repente, Cobain era tão mito quanto Lennon e quase tão antigo; o começo dos anos 90 se encontrava num passado um tanto quanto distante e eu estava mais velho (mas não muito). A meninada escutava outros sons que já não identificavam os meus sentimentos. O rock, como esse velho garoto que é, rejuvenesceu-se uma vez mais e outra geração dava seus berros contra o mundo. Eu já não fazia parte tanto disso, ainda tinha meus discos do Nirvana e da Legião Urbana como maior expressão de minha juventude. Entretanto, meus ouvidos começaram a pedir por coisas novas e como nada de novo poderia vir das duas bandas (afinal, seus líderes estavam mortos bem como as próprias), comecei a me voltar para outros sons. Mas ainda não me sentia a ponto de largar o velho teen spirit, ele ainda rosnava bem lá no fundo de mim aquele berro de rebeldia e contestação.
O Ten original
Foi quando me voltei para duas bandas que conhecia de nome e de rádio (e de clipes aleatórios na Mtv), mas nunca tinha me dado a conhecê-las mesmo: Engenheiros do Hawaii e Pearl Jam. Da primeira, deixo p’ra outra oportunidade o prazer de comentar. É da segunda que quero ocupar suas mentes a seguir.

Se você gosta de Nirvana, largue mão do preconceito e vá ouvir o outro pilar do grunge liderado por Eddie Vedder. Se você não gosta de Nirvana, vá ouvir Pearl Jam e aprenda a ou gostar da banda de Kurt & Cia ou odiá-los mais ainda. Meu gosto pessoal me impede de dizer que o Pearl Jam é muito melhor que o Nirvana (e é melhor...), mas tenho que admitir que nunca escutei tanto Cobain quanto Vedder. As letras são mais desenvolvidas e menos intimistas e o som é melhor executado. Não quero negar os méritos do Nirvana, mas alguns fatos são fatos. E bem, o Pearl Jam ‘tá na ativa ainda hoje, o que permite ter algo novo deles sazonalmente...

Certo. Apesar dos caras terem trabalhos bacanas mais recentes, o Ten ainda é essencial se você quiser conhecer o som deles. Eu ainda escuto o disco inteiro sem querer; praticamente todas as músicas ganham meu gosto. Da primeira gradualmente explosiva faixa Once até a reflexiva Release (que por sinal termina com a introdução da primeira), passando por clássicos da banda como Even Flow, Alive, Black, Jeremy e Oceans, só p'ra citar as mais conhecidas. E que seleção de clássicos! Quantos álbuns de início de carreira você vê por aí que emplacam cinco hits históricos? Não, Pearl Jam definitivamente não é uma banda qualquer!
Edição de colecionador: fotos, CDs, vinis, DVDs e mais um monte de coisinhas legais...
Então, na segunda metade do ano passado (2009, se você estiver lendo isto num futuro mais distante...), procurando por notícias de novos lançamentos desta banda, me deparo com simplórias notas sobre o que seria uma remasterização do antigo disco Ten. Certo, no nosso atual cenário cultural, que parece viver de remasterizações e revisitações, não pareceu nada surpreendente. Mas sendo o Ten e sendo o Pearl Jam, eu resolvi dar uma ouvida. Bem, se o álbum de 1991 era bom p'ra caramba, completamente viciante, do tipo que te faz deixar o disco repetir sem nem perceber de tão bom de ouvir que é, imagine com som melhorado, revelação de detalhes sonoros antes imperceptíveis, o som das guitarras amplificados, a voz rouca do Eddie Vedder beneficiada com ganhos auditivos significativos - bem, como se a banda houvesse acabado de gravar todos aqueles sucessos estrondosos, aquelas canções grudentas e revoltadas e berradas, com a parafernália digital de hoje. Aí, você vai perceber que os caras eram muito bons mesmo, porque a diferença entre as gravações são gritantes e se eles fizeram sucesso com a captação sonora furreca que é o primeiro Ten, imagina como seria se ele tivesse a qualidade sonora que o Legacy Edition tem? Todas as músicas parecem ter sido elevadas a outra potência! Como se elas estivessem mais revoltadas, mais gritadas, as guitarras mais estrondosas, os vocais mais... acho que eu já disse isso, né?

Só para você entender que esse não é só mais um lançamento caça-níquel e que vale realmente tê-lo, o álbum é duplo, com um disco contendo a gravação original e o outro com as remasterizações. Ou seja, são dois CDs diferentes, porque é essa a impressão que fica com este novo Ten: trata-se de outro álbum. Como se as novas versões não bastassem, o segundo disco ainda vem com seis músicas-bônus: a maioria inéditas e mais as versões demos de Breath e a gritante State Of Love And Trust, ambas pertencentes, originalmente, à trilha sonora do filme Singles (no Brasil, Vida de Solteiro) - no Legacy, estão menos enérgicas e com os vocais de Vedder em um plano mais destacado.
A arte completa do disco original de 1991...
... E a nova cara do Ten de 2009.

Sem mais delongas, aqui fica a indicação do Sala 37: se você não conhece Pearl Jam, procure por esta remasterização deste clássico da era grunge; se você já conhece o Pearl Jam, faça o mesmo! Garantia de não arrependimento... Corra para uma loja de CDs (ou para o Google, tanto faz...).

Curiosidade
O nome original da banda seria uma homenagem ao jogador de basquete Mookie Blaylock, mas a gravadora ficou receosa com problemas de propiedade intelectual e direitos de nomeação, já que Blaylock tinha um contrato de patrocínio com a Nike. Assim, o nome da banda mudou, mas a homenagem seguiu no título do Ten, número da camisa de Mookie...

"Hey I, but, I'm still alive..." (Alive, Pearl Jam)

2 comentários:

  1. Eu não tenho o hábito de ler textos tão grandes em blogs como nesse post. Mas, eu amei a tua forma de escrever. Você daria um ótimo escritor, parabéns!

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  2. Billycious Böy, 'brigado pelo elogio... Nunca tive tamanha pretensão, mas sempre gostei de escrever, por isso criei o Sala 37 - é minha sessão de terapia... Legal receber esse retorno de quem vem aqui e lê, mesmo as críticas - elas são tão importantes quanto os elogios -, isso faz continuar a querer escrever...

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